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INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE MERCADOS FUTUROS

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE MERCADOS FUTUROS

A existência de mercados futuros tem sido usualmente explicada pela sua função de transferir riscos. Sob este enfoque, as bolsas de futuros passam a ser entendidas como um locus onde transações são efetivadas visando à transferência de riscos entre agentes independentes. Críticas a esta visão têm sido largamente difundidas na literatura, trazendo novos direcionamentos teóricos ao estudo da “indústria” de futuros.

Telser & Higinbotham (1977), baseando-se em ideias preliminares de Working (1953) e Houthakker (1959), passaram a explicar a existência de mercados futuros organizados em bolsa pela sua função de atrair um grande número de indivíduos ao mercado, através da padronização dos contratos, tornando-os líquidos tal qual uma moeda. Os autores desenvolvem um modelo onde são definidos custos e benefícios da organização de mercados em bolsa: quando os custos superarem os benefícios, a transferência de risco entre os agentes passará a ser feita de forma eficiente, através de contratos a termo, que serão desenhados de acordo com as especificidades da transação e negociados apenas entre as partes (e não em bolsa).

A teoria é grandemente suportada pelas observações de Demsetz (1968), que verificou uma tendência declinante do custo de transação de ativos em bolsa, à medida que aumenta o volume negociado. Assim, a ideia básica é que as bolsas são estruturas economizadoras de custos de transação.

O conceito de custo de transação originalmente utilizado por Demsetz (1968) refere-se às comissões pagas para corretores efetuarem as ordens e, principalmente, à diferença entre preços ofertados para compra e preços pedidos para venda (bid-ask spread), que também é um indicador de liquidez do mercado. O conceito de custo de transação é expandido, neste trabalho, baseando-se nas ideias de Williamson (1996), que diferencia custos ex ante (ou seja, incorridos antes da concretização da transação) e ex post.

A parcela ex ante envolve justamente os custos considerados por Demsetz (1968). A parcela ex post é resultante da ocorrência de ações oportunistas (manipulações, fraudes, etc.) e do princípio de incompletude contratual, tornando complexo o estabelecimento de cláusulas totalmente completas em um momento ex ante. Assim, surgem custos associados ao monitoramento dos negócios e das posições e resultantes de eventuais más adaptações às quais os participantes se submetem, quando a bolsa não consegue evitar ações lesivas.

Pouco se discutiu, entretanto, sob quais condições as bolsas conseguem expandir seus negócios, seja através de novos contratos, novos instrumentos ou, até mesmo, através de melhorias em contratos antigos. Neste aspecto, Streit (1983, p. 19) observa que “a negociação de contratos futuros tem suplantado o estágio de desenvolvimento predominantemente espontâneo, tornando-se uma indústria com ‘produtos’ introduzidos, gerenciados e diversificados pelas bolsas”.

O objetivo do presente trabalho é justamente discutir esse comportamento inovacional das bolsas, a fim de estabelecer um quadro analítico que permita compreender por que alguns contratos lançados obtêm sucesso e outros não. Parte-se do pressuposto de que o entendimento deste comportamento inovacional é ponto-chave para entender os fatores que conduzem ao sucesso de novos “produtos” lançados pelas bolsas de futuros – neste caso, o grau de sucesso é mensurado pelo volume de negociação de contratos.

Apesar de a análise ser particularmente direcionada aos contratos futuros, mesmo porque a literatura a seu respeito é mais antiga e extensa, nada impede que sejam discutidos outros instrumentos de gerenciamento de riscos, como os contratos de opções.

O trabalho é estruturado da seguinte forma: primeiro, são discutidos modelos explicativos do comportamento inovacional das bolsas dentro do seu ambiente competitivo. Em seguida, discutem-se fatores de sucesso de contratos, tanto com base no seu ativo-base quanto em aspectos do desenho contratual. Conclusões finais encerram o texto.

Pages: 114-130
Authors: Sérgio Giovanetti de Souza
Mestrando do Curso de Pós Graduação em Administração da FEA - USP
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